quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Fiasco: um RPG com alto potencial de diversão




Por Natalia Avernus
 
Se você é jogador/mestre de RPG e nunca jogou um jogo de narrativa compartilhada, não sabe o que está perdendo!

Diferente do RPG tradicional (com um mestre e um ou mais jogadores), nos jogos de narrativa compartilhada todos são mestres e jogadores ao mesmo tempo. Neste post falarei sobre o sistema Fiasco, lançado pela Retropunk em 2011.

O objetivo
Na prática, com o Fiasco você e seu grupo interpretarão um filme no estilo dos irmãos Cohen. Basicamente os personagens estão envolvidos em ambições e planos grandiosos mas... Algo acontece e faz desandar tudo, trazendo os personagens para o fiasco em si. Eventualmente alguém pode se dar relativamente bem no fim da estória, mas as chances são bem pequenas. 



Para jogar Fiasco, você deve estar preparado para celebrar o caos. Pode acontecer de seu personagem morrer antes do fim, mas mesmo assim você pode continuar jogando! Comece o jogo tendo consciência que os planos que você fez para seu personagem podem dar (muito) errado e a estória pode ficar totalmente de cabeça para baixo, surpreendendo todos os jogadores.
A média de duração do jogo é de 2 a 3 horas, variando de acordo com experiência e número de jogadores. O jogo inicia, desenvolve e finaliza neste tempo. Não há campanha ou sucessão de aventuras.

Jogando!
O livro traz explicações claras de como jogar e o processo é bem simples:
1) Escolher um cenário: o livro trás quatro cenários básicos: Rua Principal, Boomtown, Histórias do Subúrbio e O Gelo.
Cada um tem elementos específicos e gera estórias distintas. O cenário é a principal maneira de definir a temática do jogo.

2) Desenvolver a rede de relações: a história começará a ser definida com as redes de relações entre os personagens. Esta é uma etapa bem divertida, onde os jogadores costumam criar as relações mais estranhas/inconvenientes, baseados nos números tirados nos dados. Terminada esta fase, os personagens estarão prontos para o jogo.

Exemplo de Relações:
O passado > Detentores em comum de um segredo sinistro
Romance > Trepada de uma noite só
Trabalho > Supervisor/Empregado

3) Ato Um: Sucessão de cenas de todos os personagens. A cada cena, o jogador da vez decide se quer definir a cena ou concluir. Os jogadores tem liberdade de inventar qualquer coisa, mas algo que seja notoriamente irreal deveria ser bloqueado pelo bom senso (ah, meu personagem tropeçou num diamante no meio da avenida!). Cada jogador fará duas cenas antes da fase que introduzirá definitivamente o caos no jogo. Eis ela:

4) A Virada: dois elementos de fiasco serão introduzidos na estória, e cabe ao grupo quando eles deverão aparecer. Eles são escolhidos pelos jogadores a partir de uma tabela e há muitas opções... Uma delas irá se encaixar na estória!

Exemplos de Viradas
Caos > Acerto de contas a sangue frio
Inocência > O cara errado é pego
Falha > Um pequeno engano leva ao desastre

5) Ato Dois: neste momento estamos no meio do jogo, já encaminhando para o final. Em algum momento os elementos da virada serão inseridos, e se o caos ainda não havia aparecido, é chegada a hora. Se a estória está sem a menor idéia de fechamento definido, é bom os jogadores já irem se mobilizando para dar um desfecho, ou chegarão na cena final todos separados, embora a estrutura do jogo seja bem pensada, criando situações que mantém os personagens unidos.

6) A Conclusão: este é o momento das grandes fugas, das explosões, do flagrante, da polícia capturando os personagens... Diferente de todo o restante do jogo, o final de cada personagem é definido no livro, através de jogadas de dados que o jogador consegue durante a partida. O resultado na tabela explica o que deve acontecer, mas cabe aos jogadores definirem exatamente o que é.

Exemplos de Conclusão:
“Você pode não ter morrido por fora, mas com toda certeza do mundo morreu por dentro. As feridas emocionais ou mentais que você sofreu jamais vão ser curadas. O fututo é uma parede intransponível.”
“Provavelmente você morreu. Outras pessoas, provavelmente inocentes, morreram também. Não há justiça, nem clemência, tudo está absolutamente, dolorosamente ferrado e é tudo – tudo mesmo – sua culpa.”
“Levando tudo em conta, até que você se deu bem. Sua dituação está um pouco melhor – talvez você tenha ficado com a garota, ou apenas não tenha sido pego”.


Recomendações
O jogo tende, pela sua natureza caótica e perversa, tomar rumos de um filme para 18+. Então não pegue muito pesado se estiver jogando com menores de idade.

Cada partida só dura três horas no máximo. Fique à vontade para fazer um personagem totalmente diferente do que costuma fazer. Seja ousado. Por experiência de jogo, quanto mais ousado o seu personagem for, mais ele se destacará na estória e provavelmente em mais encrencas ele vai se meter. Garantia de diversão.

Tenha maturidade de aceitar caso algum jogador faça algo que você não goste com seu personagem. Os outros poderão matá-lo, fazer um incêndio na loja dele, transformá-lo em gay... Se isso fizer a estória fluir de maneira divertida, é válido. Aproveite para dar o troco também! Como não há campanha, o jogador não terá apego ao personagem, e em meio ao caos tudo pode acontecer. Só cuidado para não desviar da estória e fazer uma guerra entre jogadores e comprometer o andamento.

Vantagens
Por ser um jogo rápido e de regras simples, o Fiasco se torna uma boa saída para eventos e ocasiões em que o tempo é limitado.

Por ser um jogo de narrativa compartilhada, não há o “peso” da responsabilidade de narração sobre uma única pessoa. Até quem nunca narrou acaba ganhando experiência como mestre.

Por ser um jogo sem preparação, todos vão desenvolver a capacidade de improvisação. As cenas, criadas todas na hora, surpreendem e divertem, dando os mais estranhos rumos para a estória. A criatividade também entra em ação.

Fazer uma partida de Fiasco com seu grupo de RPG tradicional pode dar um descanso para o mestre e dar também uma descontraída. Sair um pouco da temática e viver outras narrativas pode até ajudar na campanha do grupo. Observar os jogadores do grupo narrando também pode inspirar o mestre em seu estilo de narração.

A essência do RPG está presente no Fiasco: a narrativa de estórias com elementos de aleatoriedade. Desta forma, o fiasco é uma excelente porta de entrada para iniciantes no RPG. Com regras simples e ênfase na estória e interpretação, o jogador iniciante terá uma boa base quando for jogar um RPG tradicional.

Cenários extras
O livro traz apenas quatro cenários, mas há muitos disponíveis na internet. Quando estiver experiente, já poderá criar seu próprio.
Encontrei esta lista de cenários, é uma boa opção para variar:
http://newsrpg.wordpress.com/2011/10/13/cenarios-gratuitos-fiasco/


***

Posso dizer com toda a certeza que o Fiasco proporcionou várias experiências hilárias todas as vezes que joguei. Há estórias que lembro com meus amigos e até hoje comentamos. Como frisou a jogadora do meu grupo, a Manuela, o Fiasco é um jogo com um potencial muito grande. Por que evidentemente, para ele dar certo, depende da criatividade, bom senso e desprendimento de cada envolvido.

E você, já conhece jogos de narrativa compartilhada? Já jogou Fiasco ou já ouviu falar? Como acha que seria uma partida de fiasco com seu grupo?



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Créditos da imagem 1
Capa do livro Fiasco

Créditos da imagem2
 Hong Kong Car Chaseby MagicWax (Deviant Art)

Créditos da imagem 3
Kick Ass Glaze of Glory by Rahll (Deviant Art)
 
Créditos da imagem 4
Special Effects by Maskenbildnerin (Deviant Art)




Um comentário:

  1. Tenho o Fiasco, e acho ele um jogo incrível. Infelizmente não consegui fazer uma partida ainda! Estou traduzindo aos poucos o cenário Dragonslayer, que é sobre fantasia medieval, para tentar convencer meus amigos a jogarem. Este cenário é distribuido gratuitamente no site da editora Bully Pulpit Games.

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