terça-feira, 6 de novembro de 2012

Os sete erros dos Jogadores de RPG

Por Natalia Avernus
 
Nos posts anteriores falei sobre a qualidade e defeitos dos mestres, pois como narrador da história, ele está na posição mais difícil do RPG. No entanto, sem a participação de bons jogadores, um jogo está fadado ao fracasso. Quantas mesas de RPG acabam por desânimo do mestre na campanha por que seus jogadores tinham problemas e manias que estragariam qualquer grupo?
O jogador problemático tende a ser aos poucos excluídos de mesas sérias (muitas vezes ganhando má reputação), sendo tolerado apenas por grupos rotativos, eventos, etc. Algumas vezes, seu problema é compartilhado entre todo o grupo (ex.: grupo de jogadores overpowers) e isso deixa de ser um problema, tornando-se característica do grupo.
Há também diferentes graus de defeitos... Um jogador pode ser dominado por ele ou apenas deixar transparecer eventualmente. Claro que não existe jogador perfeito: uma hora ou outra algum deles irá fazer algo ruim no grupo, mas sempre é possível melhorar e evitar que estes episódios sejam frequentes.
Gostaria de deixar claro que na minha opinião não existe maneira melhor ou pior de se jogar RPG. Se TODOS do grupo estão se divertindo, parabéns ao mestre e aos jogadores. Os tipos de jogadores que cito abaixo são os principais estereótipos ruins que vejo mestres se queixarem e que tive a infelicidade de presenciar em meus grupos. Vamos a eles:
 
 
Overpower/Combeiro: Alguns sistemas, geralmente os mais complexos e com mais recursos, abrem brechas em regras para combinações na criação das fichas que fazem com que os PCs fiquem em desequilíbrio. Um grupo com fichas "normais" e "combadas" trará clara desvantagem para os "normais", pois eles se destacarão menos em questões onde o desempenho mecânico fará diferença (combates, disputas de perícia, quantidade de dano, etc.), gerando frustração e desequilíbrio no jogo.
Lidando com isso: Se você está em um grupo onde isso é normal e todos consideram isso como a regra, dentro deste contexto isso não será problema para você. No entanto, ao lidar com grupos diferentes e outros sistemas, esteja preparado para ter o pé no chão e jogar sem os combos (que muitas vezes nem sentido fazem). Diferente do video game, o RPG não foi feito para "ganhar"- pode ficar tranquilo com seu personagem "normal". Cabe ao mestre deixar isso claro a todos os jogadores e vetar fichas que provavelmente desequilibrariam o jogo.
 
 
Ausente: Este jogador tem pouco ou nenhum compromisso com as datas de jogo. Falta às vezes sem justificativas ou com desculpas difíceis de acreditar. É um problema que acontece geralmente com jogadores mais velhos, que tem mais opções e prioridades na vida. A falta obviamente atrapalha o andamento da campanha, prejudica o grupo e principalmente o mestre, caso ele tivesse preparado uma cena especial para o jogador ausente.
Lidando com isso: Há muitas causas que levam um jogador a faltar. Há pessoas realmente atarefadas que acabam encontrando dificuldade para ir ao jogo, seja por trabalho, compromisso com família, eventos importantes, etc. Neste caso, é mais honesto admitir que você não pode mais continuar no grupo (pelo menos não com a frequência atual). Caso o grupo concorde, vocês podem jogar menos vezes no mês, ou uma vez a cada dois meses... Tudo pode ser negociado se a vontade de jogar estiver presente.
Mas se nem vontade você tem... Não tem jeito. Se jogar Skyrim é mais legal, se ir na praia é mais divertido, se ficar em casa vendo TV é melhor... Seja honesto e saia do grupo, pois você tem outras prioridades e está atrapalhando seus colegas que querem se divertir.
 
Ladrão de cenas/Competidor: Há jogadores que esquecem que o RPG é um jogo de cooperação: querem fazer tudo sozinhos e se destacarem quando podem (ou não podem). Seja roubando o tempo no jogo interrompendo a fala de outros jogadores ou tentando resolver os problemas "da sua maneira", o ladrão de cenas acaba atrapalhando os outros jogadores e colocando o grupo em situações perigosas.
Geralmente ele se acha superior aos outros personagens, agindo como se fosse um "líder", mesmo que ninguém tenha concordado com isso. Quando o mestre não interfere, isso acaba gerando problemas, pois os outros jogadores sentem que perdem a importância, agindo como meros coadjuvantes.
Lidando com isso: É difícil mudar certos hábitos e talvez esse seja um dos piores problemas para se corrigir, pois lida diretamente com a personalidade do jogador. Acho que a solução deve partir de todo o grupo, mudando a postura do "ladrão" para uma posição mais cooperativa. O mestre deve intervir sempre que necessário, permitindo que os outros jogadores tenham seus espaços de interpretação e influência na campanha.








Apagado: Ao contrário do caso acima, o jogador apagado interage muito pouco no jogo. Fica calado a maior parte do tempo e quase nunca toma iniciativa de fazer nada. Seja por inexperiência no RPG, seja por falta de criatividade ou de motivação, o jogador apagado acaba ficando para trás em relação aos outros e pode prejudicar o grupo ao não tomar decisões quando isso for importante.
Lidando com isso: Da mesma forma que o "ladrão de cenas", este é um problema que pode ser realmente difícil de resolver. Se você é um jogador apagado, tente descobrir o porquê disto... Você se sente intimidado com o resto do grupo? Ou é a campanha que não está agradando? Será que é o personagem que não está adequado? Quando descobrir qual é a fonte do problema, tente resolver junto com o mestre e aos poucos seu desempenho tenderá a melhorar.
Caso você seja mestre e tenha algum jogador apagado em seu grupo, você deve conversar com ele e tentar descobrir a causa do problema. Nem sempre é uma tarefa fácil fazer esses jogadores brilharem, mas ao criar cenas e oportunidades onde só os personagens deles se destacariam é um meio de fazê-los se soltarem.

 
Melindroso: Um tipo clássico, todos já devem ter visto! O jogador melindroso fica com raiva de tudo que acontece de ruim para seu personagem, levando muitas coisas para o pessoal. Com extrema dificuldade em aceitar perdas, o melindroso reclama muito e muitas vezes tende a se achar em desvantagem aos outros jogadores, mesmo que não esteja. Costuma reclamar se o mestre não é generoso o suficiente em recompensas, se não consegue "aquele" item mágico, se fulano se deu bem e ele não...
Lidando com isso: Dificilmente alguém vai admitir que tem este defeito... Mas caso você tenha maturidade suficiente para admitir, reveja suas atitudes. Eventualmente, seu personagem vai ficar em desvantagem em relação aos outros (principalmente se eles tomam decisões prudentes e você não) e cabe a você ter maturidade de entender isso. Ao invés de começar o "mimimi" no meio da sessão, converse com o mestre em particular e tente entender por que você foi injustiçado. Como já disse antes, ninguém "vence" no RPG, então não esteja em clima de competição.
Como mestre, você pode ter uma conversa à parte com o jogador e explicar o porquê das coisas terem acontecido daquela maneira. Tente fazer com que ele entenda que qualquer personagem pode ser "injustiçado", e isso faz parte do RPG. Ouça também o que ele tem a dizer. Talvez você descubra que realmente pegou pesado; nesse caso, um pedido de desculpas cai bem.
 
Sem noção/"Débito mental"*: Não sei o quão comum este problema é, mas uma coisa tenho certeza: em jogos sérios, não há pior defeito possível do que este! O aspecto sem noção fará com que o jogador faça piadas inconvenientes ou se comporte de maneira inadequada com o resto do grupo, com comentários e atitudes "totalmente dispensáveis". Isso também se reflete no personagem, que espelhará a personalidade do jogador em atitudes que em pouco tempo podem arruinar o grupo, principalmente se o "débito mental" for alto (eu vou dar uma flechada neste guarda aqui no meio da cidade, qual o problema?).
Lidando com isso: Por ser um problema que é reflexo da personalidade do jogador, me arrisco a dizer que pouca coisa funcionará para melhorar o seu desempenho. Para melhorar o "débito mental", o GURPS tem uma vantagem chamada "Bom senso", que permite que o mestre avise o jogador quando ele está prestes a fazer uma burrice e dê a opção de repensar atitudes livremente. O mestre pode usar este recurso em qualquer sistema. Talvez com o tempo ele vá melhorando, mas não sem antes tentar fazer MUITA besteira.
No aspecto sem noção, a falta do tato social do jogador pode ofender qualquer pessoa do grupo. Pode parecer absurdo, mas há pessoas que com pouca intimidade acham que já podem xingar e insultar os outros livremente, pois para ele isso é normal. Ou acha que pode fazer piadas preconceituosas, algumas vezes ridicularizando outros jogadores ou pessoas próximas ("Eu odeio suburbano, tenho horror de gente gorda, etc."). O grupo deve conversar e mostrar que isso é ofensivo e caso o problema persista, talvez seja melhor convidá-lo a se retirar. Há pessoas que realmente não sabem conviver em sociedade.
 
Morto-vivo: diferente do jogador "apagado", o jogador morto-vivo até interage com o jogo, mas de forma fria, sem interpretar de fato. Muitas vezes fala apenas em terceira pessoa ("Ele vai intimidá-lo", "ele vai barganhar com o vendedor", "ele vai dar um discurso para meu exército") e toda a sua fala fica subentendida. Os trejeitos, a voz, as particularidades do personagem nem chegam a ser desenvolvidas, pois ele é um executor de ações e não um personagem que interpreta de fato.
Lidando com isso: este é um daqueles tipo de problema que pode ser considerado "característica do grupo", como o "grupo overpower". Se seu grupo está acostumado a jogar assim e vocês se divertem, ótimo. Mas em outros contextos, este estilo morto-vivo pode ser mal visto e você pode ser surpreendido pelo novo mestre com um "Tá, mas você vai intimidar ele falando o quê? Fala aí." Neste momento você irá aproveitar o que considero a coisa mais divertida do RPG: o roleplay. A criação e desenvolvimento de uma outra personalidade, com hábitos e capacidades diferentes das suas é uma experiência incrível, que o RPG oferece de maneira simples e divertida.
Se um jogador morto-vivo está tirando o clima de sua mesa, você como mestre pode o tempo inteiro pedir para que ele realmente fale em primeira pessoa; aos poucos ele irá se acostumar, principalmente vendo os outros jogadores fazendo isso. Além disso, é importante mostrar a ele que definir uma personalidade para o personagem (por mais clichê que seja) fará com que ele interprete melhor, pois sabemos que há uma legítima diferença entre um guerreiro estúpido e um guerreiro astuto falando; entre um ladrão fanfarrão e um ladrão sério falando com um parceiro de crime; entre um policial corrupto e um policial íntegro falando com um infrator.
***
Por mais difícil que pareça algumas vezes, há casos de jogadores que realmente podem mudar. Talvez isso não vá acontecer agora, mas daqui a alguns anos, quando ele sair da casa da mãe e precisar pagar contas; ou quando a vida começar a dizer alguns "nãos" para ele. Talvez você se surpreenda com aquele jogador que era extremamente melindroso aceitando até a morte de seu personagem sem dar escândalo. Ou aquele que era um morto-vivo interpretando, todo empolgado.
Mas a mudança é uma decisão totalmente interna, não existe mudança de fora para dentro. Por mais que o grupo peça ao jogador que mude sua atitude, apenas ele tem realmente o poder de mudar. O primeiro passo é assumir o problema e começar, a partir daí, o processo de mudança.
E em seu grupo? Já tiveram muitos jogadores problemáticos? Como lidaram com isso? Você como mestre simplesmente "corta" jogadores que não se adequam ou tenta fazer um esforço para melhorar o jogador?
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* Gíria comum entre meus amigos para pessoas com pouca inteligência.
Créditos da imagem 1
Ogre Bully by dangercook (Deviant Art)
 
Créditos da imagem 2
E vs N by sandara (Deviant Art) [recorte] 
 
Créditos da imagem 3
rewin by n ossandon nezt (Deviant Art)



5 comentários:

  1. Belíssimas análises! Dona Natalia.

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  2. Mto bom mesmo, e olha vou dizer q mesmo os "menos piores" são personalidades difíceis de mudar. Acho q já vi todos os espectros de maus jogadores e estou feliz em dizer q sobrevivi a todos ;)

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  3. Caramba o combeiro sempre aparece em Vampiro A Mascara é um saco. Mas sempre damos um jeito de mostrar que mesmo com todo o combo dele, pode aparecer um NPC mais fodao que ele tipo....Tariq O Silencioso muhuhahahahahahaha

    Parabéns pelo Blog.

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  4. Acho que eu tenho sorte com jogadores. Desde que fiquei mais velho e arrumei um pessoal com mais de 25 anos para jogar, raramente tenho qualquer um desses problemas. Embora até ache que alguns nem são tão problemas assim, como o "apagado" (as vezes o jogador só está ali para passar um tempo com os amigos, ele não quer brilhas tanto como os outros).

    Mas as dicas de como lidar com os problemas são bem válidas mesmo. Conversa é o melhor remédio, conversa franca e clara. Aquilo é um jogo e é para ser divertido para todos.

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  5. Adorei o post
    Mas sinceramente, eu não sei em qual um certo jogador da minha mesa se encaixaria
    Tipo, ele é muito aleatório, o grupo está num momento sério fazendo a investigação sobre a carniceira de Baldur, aí esse jogador decide ir tocar num bar no porque sim, tipo, coisas aleatórias

    Outra coisa que ele costuma fazer também, a jogadora foi usar a personagem que tem a maior Furtividade, Percepção e Investigação e ainda ficando invisivel para investigar um local sozinha e qualquer coisa voltava, ela dizia que precisava de uns 15min, todos fazem seus personagens ficarem sentados sem fazer nada aguardando a ladina voltar, esse jogador parece não aguentar ficar sem fazer nada se alguém faz algo, e vai e segue ou fica fazendo coisas aleatórias fazendo o mestre perder tempo(foi umas três vezes que isso ocorreu, duas delas foi com perda de tempo e a outra quando ele seguiu, o péssimo resultado dele fez todo plano se ruir

    Que tipo de jogador é esse? E como mestra, como posso lidar com isso?

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