Iniciação ao RPG

 Por Natalia Avernus

Em meio a tantas possibilidades de entretenimento, estaria o bom e velho RPG de mesa sendo deixado de lado? De muitas pessoas que conheci no passado, poucas realmente continuam jogando. Os motivos alegados são muitos, mas de uma maneira geral, a maioria simplesmente volta os interesses para outras coisas. Sabe aquela coisa de “quem quer dá um jeito?”, é bem por aí. E de repente você se viu sem aqueles velhos companheiros para jogar? Será que não está na hora de apresentar o RPG para outras pessoas? E como fazer isso sem assustar os novatos?

Situação 1: Mestrando para um grupo de jogadores novatos

* No mesmo barco: sendo todos novatos, nenhum deles vai se sentir em desvantagem em relação ao conhecimento de RPG dos outros. Farão as mesmas “mancadas” e juntos aprenderão o funcionamento das regras e do roleplay. O mestre precisará auxiliar bastante, uma vez que eles não têm um padrão de comparação, incentivando eles a não dizerem simplesmente “meu personagem pede informações ao taverneiro”, mas sim pedirem de fato em primeira pessoa.

* Apresente opções: mesmo que você seja super fã de matrix, pergunte aos seus jogadores se eles curtem a temática antes de perder horas elaborando uma aventura. Pergunte que tipo de história eles gostariam de jogar e dê sugestões baseadas no que eles conhecem (indique filmes, livros, séries, etc.). Se quiser algo mais formal, pode usar o questionário do Diogo do blog Pontos de experiência (link para o post, o formulário está no final do texto http://pontosdeexperiencia.blogspot.com.br/2012/03/criando-campanhas-de-forma-colaborativa.html).

* Regras mais simples possíveis: o número de livros de um sistema, complexidade da ficha, das regras (e do quão a sério elas são levadas) podem assustar os novatos e tirar o foco. O mais importante agora é fazer eles conhecerem o mecanismo básico do RPG: o roleplay. Começar com sistemas simples como Dungeoneer, variações do Storyteller, 3D&T (é, até isso vale) ou mesmo sem sistema (!) fará o jogador poder dar mais atenção à história, poupando muito trabalho do mestre em ter que ficar horas orientando a fazer fichas e explicando dezenas de regras.

Situação 2: Adicionando novato(s) em um grupo experiente

* Novatos e sistemas complexos: seu grupo em andamento joga um sistema complexo, nada amigável aos novatos? Antes de inseri-los no grupo, faça algumas “aventuras solo” com cada um ou aventuras só com os novatos. Assim, você poderá explicar o sistema aos poucos e fará com que eles estejam mais à vontade para jogar com o grupo experiente.

* “Eu sou café com leite”: converse com seus jogadores e veja se todos são favoráveis à entrada de novatos na mesa. Isso poderá gerar situações em que o mestre tenha que dar mais informações e dedicar mais atenção aos novatos (pelo menos no começo) e os antigos precisam entender isso. Além do quê, os novatos podem se sentir intimidados pelo conhecimento dos veteranos e não se soltar muito. Faça eles se sentirem úteis e se entrosarem com o grupo.

Em ambas as situações:

* Atenção na criação da ficha: os novatos precisam definir bem a personalidade de seus personagens e a boa interpretação deve sempre ser encorajada. Mesmo que eles usem um clichê (bárbaro estúpido, um vampiro manipulador, um anão honrado) veja se eles estão conseguindo convencer e o mais importante: se eles estão se divertindo. Se não estiverem, sugiram a troca de personagem ou alguma modificação pontual. Naquele questionário disponível no Pontos de Experiência tem perguntas que ajudam a estabelecer a história, personalidade e motivações dos personagens, vale a pena conferir.

* Faça valer a pena: se você é um excelente mestre de improviso, não se preocupe com a preparação, do contrário, prepare cuidadosamente: a primeira impressão é importante. Aquela sessão “meia-boca” pode valer com os experientes que já estão apegados aos personagens. Mas os novatos podem ficar decepcionados/impacientes e desistir.

Steve Jackson ajuda:

* Muitos jogadores de RPG começaram jogando livros-jogos da famosa série Aventuras Fantásticas. Estes livros são um excelente meio para os novatos pegarem o “espírito” das ambientações clássicas. A maior parte das aventuras se passa em cenário de fantasia medieval (Titan), mas também há títulos de ficção científica para quem preferir. Este blog é uma referência para a coleção http://aventurasfantasticas.wordpress.com/

Apenas lembrando que a editora Jambô está relançando a coleção, então vamos apoiar comprando os livros, valem muito a pena.

* O livrinho sagrado: O livro RPG: Aventuras Fantásticas: uma introdução aos role-playing games ocupa um lugar de destaque na minha estante não sem motivo. Este livro tem o mérito de ter me ensinado o que é RPG e a mestrar sem eu nunca ter visto qualquer sessão de jogo antes! Em seu texto didático e repleto de ilustrações, ele dá uma verdadeira aula sobre como mestrar e conduzir aventuras para iniciantes. Tem também duas aventuras estilo masmorra excelentes, com ilustrações de cada aposento e descrições detalhadas do que há neles. Difícil errar!

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Talvez você se esforce, faça tudo nos mínimos detalhes, tenha uma ótima técnica mas... O novato desapareça. Infelizmente, não são todos que gostam mesmo do nosso hobby e não há muito o que fazer quanto a isso. Mas certamente haverão também aqueles deslumbrados iniciantes que jogarão por anos a fio e lhe serão eternamente gratos por você ter apresentado o RPG para eles.

E quanto a você? Quem foi seu primeiro mestre? Já teve novatos em sua mesa? Compartilhe suas experiências.

Créditos da primeira imagem: little warrior by mirachravaia (Deviant Art)