Sozinho na Terra-Média: livros-jogos no clima de Senhor dos Anéis

Por Natalia Avernus

Quem é rpgista old-school com certeza lembra da série Aventuras Fantásticas e seus famosos livros-jogos. A cidadela do caos, o feiticeiro da montanha de fogo, a cidade dos ladrões... Muitos títulos foram publicados no Brasil até a saudosa editora Marques Saraiva fechar as portas. A série fez bastante sucesso no Brasil e em várias partes do mundo e logo outros autores se empolgaram e aderiram ao estilo.

Hoje venho apresentar para vocês a série “Aventuras na Terra-Média”. Originalmente começaram a ser publicados em inglês em 1985, num total de treze livrinhos com autores variados. Aqui no Brasil infelizmente só foram publicados os n. 5 até o 8, pela Ediouro em 1995 (dez anos de atraso!).

Original em inglês: este não chegou no Brasil

 Sistema

Os livros se destacam em vários aspectos: o primeiro deles é o sistema. Muito mais completo que o simples “Habilidade, Energia e Sorte”, a série usa a versão simplificada do MERP (Middle-earth Roleplay), o sistema de RPG criado com base na obra de Tolkien. No começo do livro tem uma ficha pronta, mas você também pode recorrer a parte de regras no final do livro e criar seu próprio aventureiro. Há opções de raça: homens, elfos, anões e hobbits, e cada uma dá uma vantagem/desvantagem que faz diferença na hora do jogo. Sua ficha terá três “Stats”: Força, Agilidade e Inteligência e nove Habilidades: Corpo-a-corpo, Míssil, Defesa, Corrida, Geral, Trapaça, Percepção e Magia. Sim, Magia! Você tem até uma lista de feitiços bem úteis para conjurar.

Feitos e consequências

Durante a aventura, você precisará testar suas habilidades para superar os desafios e eventualmente entrará em combates contra lobos, orcs, espíritos e outras criaturas da Terra-Média. Eu disse eventualmente por que estes livros, se comparados com os da série Aventuras Fantásticas, tem um número bem menor de combates, até por que os combates são difíceis e você sempre terá uma chance significativa de morrer, até para um ribeirinho abusado. Em contrapartida, várias vezes há opções de fugir da luta, no entanto, se você fugir, não ganhará o famoso XP. Até XP temos aqui nesta série! Combates e situações de desafio oferecem diferentes recompensas em XP, que você pode acumular para melhorar seu personagem para jogar outro livro da série. Eu mesma usei o mesmo guerreiro do Traição no Abismo de Helm para jogar o Em Busca do Palantir. Há também uma contagem de tempo (dias passados no jogo), mas é opcional e não interfere muito se não for usada.

Múltiplos finais

Lembram da referência 400? O gran finale das Aventuras Fantásticas? Na série Aventuras da Terra-Média, há inúmeros finais possíveis e não estou falando de finais como “Você cai em um fosso por mais de trinta metros até encontrar estacas de ferro que perfuram todo o seu corpo. Sua aventura termina aqui.” (embora esses finais de trágicos também existam). Mas há um número significativo de finais possíveis que às vezes fica difícil entender qual é o ideal e qual é o alternativo. Outra curiosidade é que os livros variam de quantidade de referência. Eles começam na n. 100 e alguns terminam por volta da 400 ou ultrapassa o n. 500.

 

Palantir: múltiplos personagens

Um recurso muito interessante e inédito nos livros-jogos que li até então foi a opção de escolher um entre diversos personagens para jogar o livro. São eles: um elfo de Valfenda (Dincú), um anão das Montanhas Azuis (Khrîm), um hobbit do Condado (Gáli Tuk), o humano guardião e discípulo de Aragorn (Imracar), a mercenária de Bri (Mera) ou qualquer aventureiro que você queira criar ou importar de uma aventura anterior (com seus devidos XP gastos e quaisquer itens conseguidos). Há várias opções diferenciadas de acordo com o personagens que você escolheu e é divertido depois recomeçar com outro personagem, fazer escolhas diferentes e ver o que vai acontecer.

 “Gandalf!”

Que tal encontrar Gandalf, Legolas, Gimli e outras celebridades da Terra-Média? Em alguns livros, você pode encontrá-los e até mesmo lutar ao lado deles! Algumas vezes há longos diálogos com esses personagens e é muito bom ver a preocupação dos autores em retratá-los o mais fielmente possível. Além do que, eles fazem uso da mitologia e geografia da Terra-Média o tempo todo, o que faz uma excelente imersão no jogador.

 

Riqueza de personalidades

Éowyn e o Rei Bruxo - esses eu não vi!

Diferindo da maioria dos livros-jogos, nesta série o seu personagem tem falas na primeira pessoa. Você irá conversar, gritar, insultar, investigar... Tudo isso em primeira pessoa como num diálogo de um romance. E falará com personagens que tem, de fato, uma personalidade. Você conhecerá mercenários fanfarrões, ribeirinhos oportunistas, anões teimosos, guerreiros orgulhosos, elfos benevolentes, trolls cruéis, etc.

O que podia melhorar?

Como nada é perfeito, aqui também não seria diferente. A arte interna dos livros é bem decepcionante e muitas vezes quebra o clima. Outra coisa são pequenos bugs que eventualmente acontecem, mas não encontrei nada que impeça o jogo de continuar. E por último: às vezes o jogo parece muito linear, sem muitas opções de ramificações.

Agora quero jogar! Onde consigo os livros?

Como eles já não são impressos há muito tempo, só restam os sebos e sites de vendas de produtos como mercado livre, sem falar na Amazon, onde vocês poderão comprar até os originais em inglês.

Os meus foram comprados pela Estante Virtual: http://www.estantevirtual.com.br/

Onde consigo mais informações?

Este site é pretende ser uma bibliografia internacional de todos os livros-jogos publicados! Se ele consegue, eu não sei, mas posso dizer que é uma excelente fonte de informação e se você é fã de livros-jogos não pode deixar de conhecer:

http://www.gamebooks.org/index.php

Abaixo a referência deles para que não restem dúvidas:

AMTHOR, Terry K. Um espião em Isengard. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.

BARRET, Kevin; PETERS, Saul. Traição no abismo de Helm. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.

MATHEWS, Susan; RUEMMLER, John David. Minas de Moria. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.

CREIGHTON, Milt. Em busca do Palantir. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995.

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Para quem não conhece outros livros-jogos além da série Aventuras Fantásticas, esta é uma boa oportunidade de experimentar outras possibilidades e se surpreender com o Aventuras na Terra-Média. Para os fãs de Tolkien ainda é mais interessante, pelo grande mergulho que os autores proporcionam. Merece um espaço de honra na estante!

E você, já conhecia a série? Ficou com vontade de jogar? Se já jogou, o que achou?